METODOLOGIA DE PESQUISA – O que é?
1. O que é pesquisa?
Conceituar pesquisa é tarefa das mais complexas, empreendida por importantes autores, reconhecidos internacionalmente, e obviamente não é a intenção deste texto. Tenta-se, de maneira muito breve, resumir a idéia de pesquisa e de método com o intuito de elucidar o nome da disciplina que será desenvolvida em sala de aula.
Viver cada dia supõe resolver inúmeras questões. O homem necessita encontrar alimentos, proteger-se, resolver questões concernentes à vida social, questões relativas à busca por realização, para que possa sobreviver. Quando uma hierarquia de necessidades é satisfeita, outra se apresenta.
Vieira Pinto (1979) considerou que para que o homem pudesse subsistir necessitou e necessita adaptar a natureza a si, sempre. Como a natureza resiste, o homem tem que se empenhar em conhecê-la e dominá-la. Impõe-se, à humanidade, como explicita Vieira Pinto (Cf., 1979, p.421), sua condição existencial: pesquisar a natureza. É desta forma imperativa que a pesquisa é inerente à vida e a invade.
Continuando com o autor citado acima, compreende-se que a pesquisa culmina com a produção de conhecimento e, que, os homens se dedicam a conhecer. A acumulação de experiências cognoscíveis é um processo de natureza histórica. A soma das experiências do indivíduo mais as experiências da humanidade traduzem-se na herança cultural. Embora seja um processo acumulativo não se reduz a uma somatória, pois o conhecimento se modifica, podendo mesmo negar o conhecimento anterior, constituindo-se a cultura neste curso evolutivo. Produzem-se, assim, os bens de vida, que são os aparatos que possibilitam a sobrevivência e os bens de pensamento, que são as idéias abstratas, os aspectos subjetivos. Os bens de pensamento sintetizam o produto da transformação do conhecimento, que, segundo o autor, é a finalidade da pesquisa. (Cf., VIEIRA PINTO, 1979, p.421-432).
Uma pesquisa pode ser um conjunto de ações empreendidas com o fito de conhecer algo, uma situação, uma necessidade. Pesquisar é investigar. Investigar, segundo o dicionário Houaiss (2001, p.1644) é “1 seguir pistas, vestígios, 1.1 fazer diligência para descobrir, inquirir, indagar, 1.2 procurar metódica e conscientemente descobrir algo através de exame e observação”. As ciências fazem investigações para produzir conhecimentos que, por sua vez, direcionam ações, análises, releituras.
Ao explicar o planejamento de pesquisa, o professor Sérgio de Vasconcelos Luna, em seu livro Planejamento de pesquisa explicou que cabe ao pesquisador interpretar a realidade a partir de construções epistemológicas assumidas por ele: “Essencialmente, pesquisa visa a produção de conhecimento novo, relevante teórica e socialmente e fidedigno.” (LUNA, 2007, p.15).
2. O que é método?
A produção do conhecimento científico, contudo, exige um saber metódico. Saber metódico significa que o pesquisador tenha consciência deste conhecer, que o saber tenha uma intencionalidade de transformar a realidade.
O método desenvolveu-se ao longo do tempo. Vieira Pinto (Cf., 1979, p. 100) atentou para o fato de que a historicidade do método está relacionada à historicidade da razão e que a apreensão destes conceitos deve considerar a realidade como um processo. A história do método conta, portanto, a história da ciência. Ciência, método e razão devem ser pensados como produtos reais do homem em sua luta existencial.
A educação é um campo fértil, porém a sensibilidade que a toca reserva ao pesquisador cuidados éticos, capacidade de se perceber ao reconhecer a alteridade, possibilidades de se dar conta da complexidade e da multirreferencialidade[1] das inter-relações.
[1]A multirreferencialidade, segundo Poinssac (1998, p.119) é: “[...] um método de análise e de leitura aplicado a situações relacionais.” A multirreferencialidade é um conceito discutido por vários autores, proposto por Ardoino e seus colaboradores. Ela reconhece na realidade a existência de muitas linguagens, que necessitam ser descritas e interpretadas. Não devem ser desconsideradas, porque derivam de diferentes paradigmas. É significativo para os pesquisadores e também para os práticos atentar para a complexidade das práticas sociais. (Cf. BARBOSA ,1998, p.205)
A escolha metodológica, por sua vez, depende do objetivo da pesquisa e da natureza do objeto de estudo. Sendo o objetivo da pesquisa diferente de um escore com tendências porcentuais sobre uma grande amostra, é necessário que o instrumento possibilite conhecer as questões singulares e complexas das circunstâncias. Assim, reduzir a metodologia tão somente ao instrumento de coleta de dados implica abandonar a concepção de metodologia reflexiva, como denominou Franco (Cf., 2003, p.4).
Segundo a autora:
[...] a metodologia de pesquisa não é um rol de procedimentos a seguir, não será um manual de ações do pesquisador, nem mesmo um caminho engessador da necessária criatividade do pesquisador. (FRANCO, 2003, p.5).
A pesquisa está profundamente comprometida com a metodologia, e esta, por sua vez, com a maneira do pesquisador conceber o mundo e o homem. A metodologia reveste-se de importância tal que necessita ser pensada cuidadosamente em termos de compromisso, valores e princípios.
O novo conhecimento tem que ser comunicado, propagado. Pescuma e Castilho (2009) na introdução do livro Trabalho acadêmico. O que é? Como fazer? explicitaram:
Esta atitude investigativa nos trará a alegria de novas descobertas, que só terão sentido se forem divulgadas, compartilhadas, comunicadas... [...]
Para que essa divulgação possa ocorrer de maneira eficaz, é necessário seguir certo padrão. (PESCUMA e CASTILHO, 2009, p. 9)
3. Concluindo:
Fazer um trabalho científico implica em pesquisar, utilizando um método e comunicar os resultados segundo regras previamente determinadas.
Deverá seguir as normas descritas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Tais normas serão responsáveis pelo aspecto formal dos trabalhos que, segundo os autores acima citados, são responsáveis por certa regularidade o que facilita, por sua vez, o intercâmbio entre pesquisadores. (PESCUMA E CASTILHO, 2009, p.10). Além dos aspectos gráficos formais de apresentação e redação, importam a análise dos dados, a construção do raciocínio demonstrativo, os aspectos éticos e o compromisso com a produção deste saber.
Segundo Severino (2008, p. 199) embora os trabalhos científicos mantenham características comuns, ainda assim distinguem-se pelos seus objetivos, pelo objeto de estudo e pelas diferentes áreas do saber.
Alguns dos principais tipos de trabalho científico são: monografias, relatórios científicos de estudo, que podem ser mais ou menos monográficos, o trabalhos de conclusão de curso, Relatório de pesquisa de iniciação científica, resumos, resenhas, artigos científicos, resumos técnicos de trabalhos científicos.
Porém, o trabalho científico não se reduz ao aspecto formal, Pescuma e Castilho (2009) alertaram:
Ressaltamos sempre que o mais importante em uma pesquisa não é a sua parte formal, mas a originalidade, estrutura lógica, coerência entre as partes, fundamentação teórica e relação com a prática. (PESCUMA E CASTILHO, 2009, p. 10)
A íntegra da ementa da disciplina Metodologia de Pesquisa é a seguinte:
Disciplina de caráter teórico prático.
Aprofunda aspectos necessários para a realização de leituras metódicas propiciando ao aluno condições de ler textos científicos, analisá-los interpretá-los e reescrevê-los, sem a preocupação de emitir parecer próprio.
A reescrita de textos científicos deve ser clara, coerente e fundamentada apresentando corretamente citações e referências de acordo com as normas da ABNT.
Cujo objetivo geral é:
Conseguir que o aluno leia e escreva corretamente textos acadêmicos
E os objetivos específicos são:
Propiciar condições para que o aluno:
a) conheça as diversas fontes de pesquisa.
b) saiba redigir relatório de pesquisa obedecendo as normas técnicas.
c) faça corretamente referências de livros, revistas jornais e materiais eletrônicos.
d) obtenha suporte teórico e prático para elaborar textos de caráter científico, aplicando as normas convencionais.
Ângela Cancherini
Bibliografia
BARBOSA, Joaquim Gonçalves (Org.). Multirreferencialidade nas ciências e na educação. São Carlos: UFSCar, 1998.
FRANCO, Maria Amélia Santoro. A metodologia de pesquisa educacional como construtora da práxis investigativa. Revista Nuances: estudos sobre educação. Vol.IX. Nº s9/10. UNESP. Presidente Prudente, 2003. p.189-210.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LUNA, Sérgio Vasconcelos de. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: Puc, 2007.
PESCUMA, Derna; CASTILHO, Antonio Paulo F. de. Referências bibliográficas. Um guia para documentar suas pesquisas. 6. ed. rev. e ampl. São Paulo: Olho d’água, 2008.
______ . Trabalho acadêmico. O que é? Como fazer? Um guia para suas apresentações. 5. ed. São Paulo: Olho d’água, 2009.
POINSSAC, Béatrice. Infografia e Multirreferencialidade. In BARBOSA, Joaquim (Coord). Multirreferencialidade nas Ciências e na Educação. São Carlos: Editora da UFSCar, 1998. p.119-125.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2008.
VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e Existência. Problemas filosóficos da pesquisa científica. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. v. 20. Série Rumos da Cultura Moderna.
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